O Diagnóstico Epidemiológico de Saúde Mental e Qualidade de Vida e de Trabalho na PFN, realizado pelo SINPROFAZ em 2021, revelou um cenário preocupante: procuradoras e procuradores da Fazenda Nacional se encontram em um grave estado de estresse ocupacional e fadiga capaz de desencadear o burnout, isto é, o colapso emocional, cognitivo e físico. Em vista disso, o Setembro Amarelo 2022 foi marcado, na PGFN, por uma conferência sobre o tema “O que você precisa saber sobre o Burnout“. O conferencista convidado foi Leandro Teles, médico neurologista formado e especializado pela USP, membro da Academia Brasileira de Neurologia e autor de quatro livros sobre saúde mental e cognitiva.
De acordo com Leandro Teles, o tema do burnout merece discussão, pois, enquanto problema da saúde mental moderna, envolve muitas dúvidas. Segundo o neurologista, por atingir um grande número de pessoas, o burnout não é uma questão individual, mas um problema social. “Existe uma glamourização do estresse. Que tipo de relações de trabalho nossa sociedade está fomentando?”, provocou. O excesso de burocracia, a quantidade de processos e a baixa tolerância ao erro são, conforme o neurologista, alguns dos motivos do esgotamento cerebral de muitos trabalhadores. Nessa realidade, combater o preconceito com relação a doenças mentais é fundamental, afirmou Teles.
O conferencista chamou a atenção do público para o prejuízo provocado pelo burnout: o profissional tem a saúde deteriorada; a instituição perde os bons funcionários do quadro e a sociedade passa a ser mal atendida, haja vista o contexto de estresse em que se encontram os servidores públicos. “O melhor para a produtividade é um cérebro saudável.” Na visão de Leandro Teles, muitos profissionais vêm trabalhando em um ritmo insustentável e exigindo do cérebro mais do que o órgão pode entregar. Por isso é falsa a tese de que “ninguém morre de trabalhar”. “O trabalho, hoje, está no centro das nossas vidas e da vida dos que infartam, que têm arritmia, que têm um derrame”, concluiu o neurologista.
Teles ressaltou o fato de o trabalho consumir os anos de maior vitalidade de uma pessoa, assim como as horas mais produtivas do dia dela. Daí o burnout ser o desfecho de meses, anos ou décadas de dedicação a uma relação laboral precária. “O estresse faz parte da vida, mas com intensidade, frequência e gatilhos aceitáveis. Ele deve surgir em momentos fora da curva. O estresse laboral crônico leva ao esgotamento mental”, sintetizou. De acordo com o especialista, a baixa autoestima, a impulsividade, a compulsão, a irritabilidade e o sofrimento antecipado são sintomas psíquicos do estresse descompensado, que antecede o completo esgotamento. “Se tudo está no prisma da melancolia, do ritmo frenético, da fadiga e da ansiedade, é bem possível que já exista um problema de saúde.”
A íntegra da palestra está disponível em: bit.ly/SetembroAmareloSINPROFAZ